FAMÍLIA OK, FILHOS OK

O uso de drogas faz parte da realidadedas pessoas em qualquer parte do mundo, seja como experiência esporádica ou de forma constante que configure a dependência química. O uso de substâncias tóxicas remonta os primórdios da existência da humanidade, que incessantemente busca experiências extra-sensoriais ou aplacar a dor.  Por questões existenciais ou de necessidade premente de mudar um quadro sintomático as pessoas lançam mão de drogas para dormir ou ficar acordado, emagrecer ou engordar, tranqüilizar ou estimular, desinibir ou dar prazer. Por isso a exposição voluntária ou involuntária às drogas é uma realidade inerente ao ser humano.

Entretanto, delegando-se ou não o poder de domínio às drogas ou ao usuário, a realidade é que há um alto preço a ser pago: a dependência física e psíquica.  O grau de dependência química está associado ao nível de tolerância do organismo à substância tóxica. Esse nível vai aumentando e obrigando o usuário a precisar de doses cada vez maiores.

Existe um mito que geralmente leva as famílias a julgar que os filhos são pressionados a usar drogas pelas más companhias. Essas famílias precisam ser orientadas a respeito dessa crença, que limita sua percepção do real motivo que está levando seus filhos à dependência química. Caso esse mito não seja desfeito, estamos face a face com a co-dependência. Uma família co-dependente irá atribuir a culpa a fatores externos e isentar a responsabilidade do dependente e da própria família. Essa postura dificultará grandemente o tratamento e a recuperação, além de favorecer as recaídas.

Dar crédito a esse mito é fechar os olhos para a contribuição que a família pode ter nesse envolvimento do filho com as drogas. É claro que existem famílias que não têm histórico de uso ou abuso de drogas, mas os conflitos internos na família e no dependente também são fatores de risco. Além da predisposição orgânica e a exposição às drogas, os conflitos emocionais favorecem a dependência química.

Por isso uma forma de prevenção é manter um diálogo aberto na família não só a respeito das drogas, mas sobre qualquer assunto de interesse dos filhos. Essa é uma arma poderosíssima contra a dependência de substâncias tóxicas. Olhar para si mesmos e observar se há alguma dependência lícita que não seja percebida, como uso freqüente de medicamentos sem recomendação médica, uso de bebida alcoólica regular, fumo... é importante. Pois a exposição a esses comportamentos na família propicia a curiosidade e experimentação. Antes de cobrar uma atitude de não uso de drogas ilícitas, a família precisa aguçar a sensibilidade para detectar se há algum comportamento que possa inspirar os filhos a tornarem-se dependentes químicos.

Aliado a isso está a orientação permanente para as metas e objetivos dos filhos. Estimular seus sonhos de realização pessoal, oferecendo apoio sem
Menosprezar  os valores de cada estágio de desenvolvimento na sua vida.
Lembrando que se você não luta pelos seus sonhos, estará desmotivando seus filhos a buscar atividades  construtivas que lhe favoreçam o crescimento pessoal. E esse aspecto é um grande ressponsável pelo envolvimento com drogas.

Diante da impotência gerada pela falta de crença na própria potencialidade, experimentar e abusar de alguma droga pode ser vista como uma fuga ou anestesia do sentimento de
impotência.

O desajuste familiar é, certamente, o motivo maior do crescente abuso de drogas. O “drogado” é nada mais do que o sintoma aparente, como a pontado iceberg que surge sobre as águas aparentemente tranqüilas. Abaixo do nível dessa aparente calma, representando uma família aparentemente sem problemas, estão muitas outras irregularidades.

Enfim, estamos elucidando essas coisas para que as famílias estejam atentas tão somente à saúde de seus relacionamentos inter-familiares. A prevenção é sempre a melhor arma contra o sofrimento imputado pela dependência química. E caso essa fatalidade já esteja acontecendo na família, é preciso rever os conceitos de educação e de relacionamento familiar. A distância entre os membros da família pode coexistir com a aparente coesão familiar firmada em preconceitos e tradições ou na concessão de liberdade não assistida aos filhos.

Tanto para prevenir, como para tratar essa doença, existem recursos disponíveis tais como a terapia familiar, terapias individuais ou em grupo e grupos de apoio. Em caso de dependência química instalada, é necessário um tratamento medicamentoso acompanhado por um psiquiatra, além das psicoterapias ou grupos de apoio.

Estar livre da dependência de drogas é estar livre para execução de planos estratégicos de realização pessoal. A escolha do uso e abuso dessas substâncias bloqueiam a capacidade de escolher crescer. A droga é o refúgio e a morte dos fracos. A família é o sustentáculo dos fortes.

Lucineias Luchi
Psicóloga—CRP 16327
Especialização Psicologia Hospitalar e da Saúde
Capacitação Dependência Química