Os componentes de grupos de mutua-ajuda afirmam que o “isolamento é o núcleo da doença. A qual isolamento se refere essa máxima? Não seria a separação do indivíduo de seu meio? No momento da angústia extrema e reconhecimento da impotência da família em lidar com o problema, ouvimos dizer: “Dessa vez, você vai ficar aí, internado um ano ou dois”.
Outra máxima: “A recaída
faz parte da doença”. Isso tira as esperanças e enche o Paciente e a família de
incertezas. A qualquer momento, deverão estar sujeitos a enfrentar tudo de
novo. Quanta insegurança! Então não adianta nada internar? O fato é que o
percentual de recaída após tratamentos em regime de internação é altamente
significativo, segundo pesquisas.
O tratamento em regime de
internação se configura em atendimento emergencial. Entretanto, em geral, é
tido como o tratamento único e traz na maioria das vezes uma grande frustração.
Pois o que a família espera de um longo período de reclusão é que o paciente
não use mais drogas. E chegam a pensar que quanto maior o tempo de internação,
menor é a possibilidade de recaída. É comum entre os pacientes internados,
inclusive o argumento de que ao permanecer um tempo prolongado recluso, podem
regredir no tratamento.
Não existem estratégias simples
e isoladas. É necessário que participantes de uma equipe transdisciplinar atuem
de modo sistêmico, configurando uma prática ampla e integrada. Essa forma de
trabalho aponta para uma maior eficácia no resultado da recuperação do
dependente químico e de seus familiares. Sim, porque o indivíduo dessa maneira
é visualizado em seu sistema de relacionamento basal e fundamental para a
formação e desenvolvimento da autonomia e superação da doença. A família deve
estar inserida no contexto do tratamento, pois esse vínculo certamente está
adoecido e o retorno do paciente à sociedade implica no retorno ao sistema
adoecido. O que podemos esperar que aconteça, a não ser recaídas repetidas?
Durante o tratamento em
regime de internação, o paciente e seus familiares devem ser orientados sobre a
necessidade premente de dar continuidade ao tratamento em regime ambulatorial.
Todo o trabalho terapêutico durante a internação torna-se insuficiente após a
alta do paciente sem a manutenção do tratamento. Na maioria das vezes o
paciente interrompe o tratamento médico psiquiátrico, o tratamento psicológico,
o aconselhamento e a disciplina. Tendo em vista o desejo ou o medo de “curtir a
vida” após a alta da internação, os fatores de risco e de proteção devem ser
solidamente analisados. O medo pode propiciar o isolamento e então a recaída é
certa, devido ao isolamento consequente do medo. O desejo de aproveitar a vida
em “liberdade” acelera da mesma forma a recaída, devido ao afastamento do
propósito de manter-se “limpo”.
O tratamento ambulatorial
continuado e sistematizado após a internação é imprescindível. O caráter dessa forma de tratamento é de manutenção da recuperação após o período de internação e deve abranger o cuidado da família, onde está inserido o dependente químico antes, durante e
depois do tratamento em regime de internação. O paciente deve ser encaminhado e acompanhado durante e após a internação, garantindo resultados
promissores na recuperação do paciente e da família dependentes.
Lucineias Luchi
Psicóloga – CRP 16/327
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